Estimular pensamentos positivos pode modificar a sua percepção sobre a vida – e o mundo
- 28 de abril de 2018
- Postado por: Carla Cabral e Silva
- Categoria: Felicidade
“A mente é um lugar próprio, e dentro de si mesma pode transformar em céu um inferno, em inferno um céu.” – John Milton, em Paraíso Perdido.
Pense na seguinte situação: você está triste. Naturalmente deseja se sentir bem, estar alegre, e passa a imaginar qual é a melhor forma de fazer isso. Existe aí uma lacuna entre como se sente e como quer se sentir. E é justamente nessa lacuna, de desejar que as coisas sejam diferentes, é que você passa a viver. A partir daí, despende toda a sua energia e os seus pensamentos para encontrar uma saída.
Segundo a terapia cognitiva com base na plena consciência (MBCT), há duas formas básicas de pensar: o “modo atuante” é o que fazemos quando estamos tentando sair dessa lacuna como é / como gostaríamos que fosse. Você controla em que concentra a atenção e luta freneticamente por mudanças. Mas, há o “modo existente”, em que decide fazer pequenas coisas, nesse momento, que proporcionam prazer e ajudam a sentir que tem poder, prestando mais atenção nas pessoas e conectando-se mais plenamente com elas. É essa forma de “existir” e de “permitir-se vivenciar” que amplia e propicia um estado maior de alegria e contentamento.
E então… já cogitou a seguinte hipótese: e se não houver nada de errado com você, a não ser os seus pensamentos que insistem em dizer o contrário?
A positividade além da sobrevivência
Quando a área do nosso cérebro responsável por pensamentos de sobrevivência está no controle, é praticamente impossível estimular sentimentos positivos, de paz e verdadeira felicidade – e o mesmo aconteceria se você estivesse no céu. Já quando o cérebro está energizado, verá os acontecimentos sob uma perspectiva edificante, mesmo no inferno. É claro que são situações extremas, mas que comprovam: “como você se sente depende de qual região do seu cérebro está ativa, e não de sua situação ou circunstância”, explica o autor Shirzad Chamine, em Inteligência Positiva.
Essa diferença ficou evidente com a dra. Jill Taylor, especialista em neuroanatomia formada em Harvard, que vivenciou esse paradoxo. Em 1996, sofreu um derrame que comprometeu a maior parte da região do cérebro sobrevivente, e que permitiu que a região responsável por pensamentos positivos ficasse no controle. Sem essa influência negativa, foram cessados completamente seus pensamentos angustiantes, fazendo-a descobrir uma mente incrivelmente silenciosa. A seguir, começou a experimentar plenamente sensações de alegria, compaixão e paz, mesmo com o corpo paralisado e a ameaça de sua carreira ruir.
Seu relato é descrito no livro A Cientista que curou seu próprio cérebro, onde ela conta como a percepção que ganhou foi de que a vida parecia diferente dependendo de que região do cérebro era dominante. Aos poucos, ela recuperou-se, mas pode perceber com clareza qual parte do cérebro deveria ser estimulada a estar no controle para que tivesse pensamentos de qualidade, e consequentemente, uma vida melhor.
Um assistente ansioso
Vez ou outra você ouvirá uma voz interior sussurrando palavras sombrias, sugerindo que não é bom o bastante, que todos estão contra você, ou que está agindo de modo errado. Essa voz é parte de você, uma parte que o prende a padrões de pensamentos negativos e que causa desconforto. Em vez do combatê-la ou tentar bani-la, aceite-a. A psicóloga clínica Darrah Westrup sugere pensar nessa voz como um assistente ansioso.
“Não é maldoso ou cruel. Você não precisa demiti-lo ou repreendê-lo. É como um jovem residente de olhos vivos, que desesperadamente deseja provar o seu valor lhe oferecendo um fluxo constante de conselhos bem-intencionados, mas com frequência mal orientados. Você pode controlá-lo tendo compreensão e consciência de que existe, está ali, mas é apenas uma parte de você.”
Segundo o escritor Eckhart Tolle, em geral, não temos consciência dos nossos padrões de pensamento. Só é possível trazê-los à consciência quando observamos nossas emoções. “A emoção nasce no lugar onde a mente e o corpo se encontram.” Em O poder do Silêncio, escreve: “O próximo passo na evolução humana é transcender o pensamento. Hoje é a nossa tarefa mais premente. Isso não significa que não devemos mais pensar, mas simplesmente que não devemos nos identificar com o pensamento nem ser dominados por ele. Sinta a energia no interior do seu corpo. Imediatamente, o ruído mental diminui ou cessa. Sinta essa energia nas mãos, nos pés, no ventre, no peito. Sinta a vida que você é, a vida que movimenta seu corpo. O corpo então se torna uma porta aberta para uma noção mais profunda da vida que existe debaixo das nossas emoções flutuantes e de nossos pensamentos.”
As escritoras Elissa Epel e Elizabeth Blackburn, em O segredo está nos telômeros, explicam: “Você sempre tem condições de reforçar os seus recursos para se preparar para o próximo desafio que aparecer. Você pode adotar um pensamento resiliente para favorecer mais paz na mente e no corpo, criando uma consciência de seu tipo de resposta aos pensamentos que surgem”. No Laboratório de Renovação do livro, elas sugerem o seguinte exercício para despertar a percepção e a autocompaixão, em vez de mergulhar na dor.
Uma pausa para perceber
Quando estiver em uma situação difícil ou estressante, pare por alguns minutos:
- Diga qualquer palavra ou expressão que soe adequada para essa situação: “isso é doloroso”, “isso é estressante”, “isso está sendo muito difícil agora”.
- Reconheça a realidade que te faz sofrer e considere que essa dor pode não ser somente sua.
- Coloque a mão sobre o seu coração ou outro lugar que seja tranquilizante e confortador, ou gentilmente feche os olhos. Respire fundo e diga: “Que eu possa ser gentil para comigo mesmo”.
Você pode usar outras frases, segundo as necessidades do momento:
- Que eu possa me aceitar como sou, um trabalho em andamento.
- Que eu possa me perdoar.
- Que eu possa ver essa situação com olhos de amor.
- Que eu possa ser forte e enxergar além daquilo que vejo.
- Que eu possa aceitar meus pensamentos, sem julgá-los.
- Eu serei tão gentil comigo quanto possível.
O resultado deve fazer você sentir um alívio por reconhecer seu sofrimento. Mudar a percepção sobre ele mostrará que ele não é você, mas apenas uma fração de como enxerga a sua experiência ou a sua situação atual de vida. Essa pausa ajudará a restaurar o pensamento positivo, resiliente e centrado na presença.
Parabéns Carla pelo artigo profundamente objetivo e libertador.