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Felicidade: o desprender da obrigação para se permitir o direito
- 21 de outubro de 2020
- Postado por: Elair Floriano
- Categoria: Ciência da Felicidade Inspiração Método Feliz Vida Livre Mindfulness Psicologia Positiva
A felicidade está cada vez mais na vitrine. Se mistura o real direito de ser feliz com uma sensação de obrigatoriedade de ser feliz, principalmente estimulado pelo mundo virtual.
Estar bem trata-se de um merecimento, e não um dever, ou precisar parecer estar bem. O importante é investirmos em formas de realmente desenvolver e um bem-estar verdadeiro.
Por falar em obrigatoriedade, como diz o professor Tal Ben-Shahar, estudioso e referência em Ciência da Felicidade, da Universidade de Harvard: “a última coisa que quero que pensem de mim é que estou sempre feliz; existem apenas dois tipos de pessoas que não sentem emoções como tristeza ou raiva, ou desapontamento, ou ansiedade, são os psicopatas e os mortos.”
Portanto, também fico bem à vontade para dizer: não tenho “obrigação” nenhuma de estar feliz sempre, de parecer ou de estar sempre bem o tempo todo. Nenhum de nós tem essa obrigação. O que acredito é que a felicidade é um estado que pode ser cultivado e valorizado, que deveríamos abrir espaço para ela, sendo um merecimento de todo ser humano.
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Em paralelo, há o perigo que a abordagem da felicidade pode representar para quem não está atento ao quanto está sendo influenciado pela fonte onde busca suas referências e por algoritmos. Quem segue um artista, influenciador digital ou ídolo, aparentemente com uma vida perfeita, incluindo padrões de beleza e condição financeira elevada, talvez acabe traçando um comparativo com as suas dificuldade e a aparente facilidade usufruída por quem considera na condição ideal para estar feliz.
O espectador pode usar este parâmetro como base para medir o quão satisfeito está com a sua vida. Entretanto, esta comparação é muito cruel e inapropriada, de várias formas. Nem sempre o receptor das mensagens, fotos, vídeos, informações, percebe que determinados padrões de perfeição física, fama ou renda não representam um nível maior felicidade.
O aumento das estatísticas de situações de ansiedade e até de depressão distoa das expressões de um alto nível de felicidade nas redes sociais – bolhas de ilusão que, de certo modo, acarretam no agravo da infelicidade na vida real, pela falta de filtro na percepção da audiência.
A ditadura por estar feliz seria a chamada felicidade tóxica, ou positividade tóxica, que não permite espaço para as demais emoções. Essas distorções acarretam na banalização de um tema que realmente tem importância para o ser humano, para a saúde mental, emocional e física: a felicidade genuína.
A felicidade genuína é cultivada internamente, não estando sujeita apenas à aparências, ao adquirir ou a realizar. Ela permite o encontro com as emoções difíceis sem ser aniquilada, porque está em completa conexão com a vida e a sua inteireza, de altos e baixos.
Curiosamente, em alguns casos, o feliz parece ofender quem está triste. Como se a pessoa que se sente realmente bem não estivesse sendo verdadeira, ou não fosse sensível o suficiente para entender a dor alheia. Por conta das versões fictícias de felicidade. Por outro lado, na obrigatoriedade não se permite que o outro esteja triste, porque tudo tem de estar bem o tempo todo – nos casos de obrigatoriedade, claro.
É pouco resumir a uma divisão de lados, estabelecendo uma negação do outro estado, ou que um que esteja certo e o outro errado, numa competição. Evidencia apenas o quanto precisamos exercitar a tolerância, a convivência e o diálogo, em todos os sentidos – inclusive permitindo que as pessoas sintam o que sentem, sendo emoções boas ou doloridas.
Assim, como uma pessoa não pode ser discriminada por estar passando uma situação difícil, que mereça compreensão e ajuda; uma outra também não pode ser julgada por estar buscando formas de estar bem, desde que sejam verdadeiras, com parte de um crescimento pessoal consciente.
E aos que se dedicam a influenciar a ser felizes de uma forma que não é saudável? Estamos sujeitos a estas influências, a nos confundirmos e a seguir a fumaça das aparências. Assim, é essencial determinarmos os limites daquilo que acessamos, inserimos no nosso imaginário – que depois assimilamos, alimenta expectativas, e serve de base para a análise de situações seguintes e para construção de novas situações (veja aqui vídeo sobre recepção seletiva).
Liberdade para sermos humanos
A felicidade deveria nos aproximar em humanidade. Inclusive, ajudando a notar a infelicidade do outro, ou o seu sofrimento – lembrando que também podemos estar nestas situações, amanhã, ou hoje ainda. Num sentido mais amplo, estar feliz é exercer a liberdade de sermos humanos – desobrigados dela, mas totalmente abertos à sua possibilidade.
Dessa forma, também soltamos a obrigação de permanecer tristes, como se não houvesse saída, caminhos, ou forças internas que pudéssemos desenvolver e usar para sair dali.
Quando acreditamos que a felicidade é inalcançável, depende de fatores externos que não temos, e de condições específicas, nos afastamos dela e acabamos adotando formas muito menos saudáveis e benéficas para nos sentirmos bem – enquanto o vazio interno só aumenta.
Não é uma linha reta a felicidade, nem uma constante, mas pode ser cultivada. Cada vez mais conscientes do agora, vamos abrindo lugar para um estado de plenitude, no qual sabemos lidar também com a tristeza, com a pedra no caminho.
Uma obrigatoriedade inalcançável é querer um estado de ápice de felicidade. Os ápices são importantes, porém esporádicos. Depender deles é continuar na espera algo grandioso surgir, enquanto não são notados os valiosos acontecimentos simples.
Defender que as pessoas possam ser genuinamente felizes, é desejar que também possam alcançar uma vida mais digna, com respeito, amor, igualdade, e justiça.
Por isso, seguimos na missão de exercitar a felicidade genuína na nossa vida diária, e contribuir para que outras pessoas, empresas e a comunidade possa melhorar seu nível de bem-estar.
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