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Onde está a flor amarela que impulsiona seus passos?
- 17 de janeiro de 2016
- Postado por: Carla Cabral e Silva
- Categoria: Inspiração Viagens
Viajar proporciona momentos inesquecíveis. A maioria, de felicidade, de satisfação, de autoconhecimento e de descoberta. A gente sente que algo nos transforma. A transformação, porém, não vem apenas dos momentos de plenitude. Ela vem, algumas vezes, como um sopro sutil de inquietação.
Em dezembro eu estive em Budapeste, na Hungria. Uma das cidades mais fascinantes que conheci. A sua história está presente em cada esquina, em cada prédio, em cada detalhe de seus monumentos. É uma cidade que transborda charme, imponência e sensibilidade.
À beira do Danúbio, rio que corta a cidade e a divide em Buda e Peste, foi que eu tropecei em sapatos durante um passeio. Não eram sapatos quaisquer, esquecidos por alguém. Eram sapatos de dor. Ali, no meio do caminho, havia um memorial que simboliza a morte de mulheres, homens e crianças que nunca voltaram. Foram fuziladas e jogadas no rio durante o período do holocausto.
Tiravam-lhes os sapatos, depois a vida
Uma homenagem de simplicidade perturbadora. Daquelas que transforma. Sapatos que eram tirados de judeus antes que lhes tirassem a vida. As águas do Danúbio ficavam vermelhas de tristeza. Calçados, que nos isolam do contato com o solo, também representam a nossa base, a nossa sustentação. Foram-lhes tirados o chão e o céu.
Sapatos de bronze, velas, flores e um rio. De gente de toda idade, com sonhos e um futuro que não chegou a acontecer. Um santuário a céu aberto que é tocante e incomoda as nossas convicções. Apesar disso, eu consegui ver ali a flor amarela. Há uma semente em nós. É a semente que impulsiona os sapatos para que os nossos passos encontrem a direção.
Sempre, além da dor, além das perdas, devem brotar sementes de esperança e de amor. Gratidão pelo texto para todos nós.