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A solidão é uma oportunidade autêntica de preencher-se com a própria companhia
- 18 de dezembro de 2016
- Postado por: Carla Cabral e Silva
- Categoria: Felicidade Relacionamento
Há alguns dias, inesperadamente, uma colega pediu uma opinião sobre seu (não) relacionamento amoroso. Entre um beijo na boca, uns casos curtos de verão ou a troca de olhares em algum barzinho, manteve ao longo dos seus 38 anos uma vida que considera completa, porém, em carreira solo. O status “ser independente” durante bons anos foi motivo de brio: ter a liberdade de conduzir seus passos no próprio ritmo, traçar planos no seu tempo, sem pressão, e, eventualmente, dar tropeços sem saborear a aparente culpa de ter decepcionado alguém.
Mas, qual é o problema? Nenhum. É certo que o tempo enfraquece convicções, e é justamente essa certeza de que está tudo muito bem que a tem incomodado.
– Há algo errado em se sentir feliz sozinho?
Sem cerimônia alguma, essa foi a pergunta que ela me fez. Pensei, pensei e tentei me colocar em seu lugar… Sempre tive uma vida rodeada por amigos, colegas de trabalho, família presente. Já vivi momentos de silêncio, embora geralmente acompanhada, então, é preciso exercitar o olhar antes de opinar. O que você responderia?
Vou te contar,
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender.
Fundamental é mesmo o amor,
É impossível ser feliz sozinho.”
Acima, está um trecho da música Wave, de Tom Jobim. Eu poderia cantarolar somente até a frase “Fundamental é mesmo o amor”, de tão lindo que é ouvir isso de forma tão poética e convincente na voz de Tom. Mas, se fundamental, o amor faz sentido quando se está sozinho e não há alguém para amar?
Por que estar sozinho dá medo?
Uma vida solitária está frequentemente associada ao vazio, à tristeza, ao sentimento de não pertencimento. O professor Robert Lang, especialista em dinâmicas sociais, faz uma previsão: muitos de nós acabarão vivendo sozinhos em algum momento. E isso pode ser constatado pelos casamentos tardios, divórcios precoces, queda da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, ou seja, as pessoas estão passando mais tempo sozinhas.
No entanto, acreditamos que uma vida boa deve obedecer a um padrão imposto, e isso molda a percepção que temos sobre felicidade. A busca por um parceiro faz parte desse argumento, como se qualquer companhia fosse melhor do que nenhuma, por isso, relacionamentos banais são iniciados e mantidos para que não seja preciso confrontar um suposto abismo.
Já os solteiros por opção, pontuam várias vantagens dessa condição, das mais corriqueiras às mais relevantes: dormir sozinho com a cama inteira para si, não precisar discutir escolhas simples como o canal de televisão, comer em horários não tradicionais, ter liberdade para traçar planos e correr riscos que não são típicos de um casal que almeja uma vida mais estável.
A socióloga Erin Cornwell fez uma análise e concluiu que pessoas com mais de 35 anos que moram sozinhas têm vida social mais intensa do que casais, ou seja, mesmo sozinhas estão quase sempre acompanhadas. Da mesma forma, invariavelmente, casais também vão, e precisam, experimentar o gostinho da solidão, mesmo quando acompanhados. Se o sabor é ruim ou não, vai depender de como estiver preenchendo esse tempo precioso. Na dúvida, sempre dedique-o a você!
A teoria de que mentes brilhantes precisam de solidão
A rotina de redes sociais, reuniões, multidões, trânsito, conexões, faz com que as pessoas almejem momentos de solidão e encontrem nela um espaço para o repouso, para reabasteceram o nível de energia corporal e mental, além da conexão consigo mesmas. Além disso, o vazio é considerado essencial para a criatividade, a inovação e o desenvolvimento de bons líderes.
A psicóloga Mireia Darder, autora do livro Nacidas para el placer, diz que somente quando está sozinha é que se sente livre:
Reencontro-me comigo mesma e isso é agradável e reparador. É certo que, por inércia, quanto menos só se está, mais difícil é ficá-lo. Mesmo assim, em uma sociedade que obriga a ser enormemente dependente do que é externo, os espaços de solidão representam a única possibilidade se fazer contato novamente consigo. É um movimento de contração necessário para recuperar o equilíbrio.”
Conectar-se com o vazio para preencher-se
Segundo a reportagem O que você pode aprender com a solidão, da Revista Superinteressante, o psiquiatra Viktor Frankl, criador da terapia do sentido existencial, elaborou um método de tratamento nos porões do holocausto nazista em meio à dor, ao sofrimento, à solidão e à morte. Assim como a doença, a solidão pode ser um caminho amadurecido para uma vida melhor. É preciso termos a coragem de aprender com ela e não apenas rejeitá-la.
Fortalecendo o argumento, a cofundadora da organização Quiet Revolution, Susan Cain, em uma palestra sobre o poder dos introvertidos, explica como encontrar no silêncio a oportunidade de ser alguém melhor, e o mais importante, para si mesmo! Quando nos sentimos dessa maneira, também somos alguém melhor para o mundo. Estar só não tem relação com enclausuramento ou corresponde à premissa do ser antissocial, mas é uma base essencial para a construção do conhecimento e do autoconhecimento, para propor diálogos interiores mais profundos. Com a fala suave, Susan Cain faz um convite à introspecção com três exercícios:
1) Não é necessário companhia para tudo
Interação é importante, mas é preciso parar com a “loucura” de que é necessário fazer tudo acompanhado. Experimente praticar a privacidade, a liberdade e a sua própria autonomia.
2) A força da conexão com a natureza
Assim como Buda, conecte-se com a natureza e tenha suas próprias revelações.
“Não estou dizendo que temos de construir nossas cabanas no mato e nunca mais falar uns com os outros, mas digo que deveríamos conseguir nos desligar e ter contato com nosso próprio interior mais frequentemente.”
3) Observe o conteúdo da sua bagagem
Olhe a sua bagagem com coisas guardadas (leia também o texto Quanto pesa a bagagem que você carrega?) e pense no motivo daquilo tudo estar lá. É um convite para repensar a vida que vem levando, o que considera importante, se realmente o é ou só está ocupando espaço e bloqueando a entrada de experiências maravilhosas.
Como defende o escritor e psiquiatra Augusto Cury, uma mente livre é aquela que segue uma trajetória própria, que gravita em sua própria órbita. Na individualidade, também é possível praticar esportes, desenvolver e aperfeiçoar habilidades, ler e aprender muito, reiterar a espiritualidade e fortalecer a fé, reinventar o tempo ao seu gosto. Há diversas formas de encontrar a si mesmo na solidão, e, se mesmo assim não estiver feliz com a situação atual, é uma oportunidade de preparar o coração. Quando chegar a hora, ele estará pronto para acolher e conduzir o próximo passo.
E o fundamental amor, de Tom, onde se encaixa?
Somos seres humanos imperfeitos nos nossos erros e acertos. Estar autoconsciente, se interiorizar e se aceitar na condição que escolhemos para ser mais felizes é um exercício profundo de amor a si mesmo. E somente quando vivenciamos esse sentimento na nossa individualidade, com todo o seu poder, estamos prontos e livres para amar aqueles e aquilo que, também com amor, possam pousar em nosso caminho.
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