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Mindfulness: consciência plena para viver cada momento de maneira aberta e gentil
- 1 de julho de 2017
- Postado por: Elair Floriano
- Categoria: Felicidade Inspiração
A meditação extrapolou o Oriente e os praticantes do budismo e do hinduísmo, sendo abraçada pelos mais diferentes povos e pessoas do Mundo. Baseado originalmente no conceito da meditação budista, Mindfulness, que significa “atenção plena” ou “consciência plena”, promove o estado mental de prestar atenção no momento presente de maneira aberta e gentil.
Convida a observarmos e estarmos atentos às experiências vividas com aceitação. O exercício de se abrir à consciência cria a habilidade de uma reação mais criativa. “Quando nos abrirmos para a ideia do silêncio, nada mais importa. Os pensamentos vêm, mas não nos arrebatam”. A frase é do professor Antonio Fernando Stanziani, conferencista durante o IV International Meeting on Mindfulness, realizado em São Paulo, de 7 a 10 de junho, na Fundação Escola de Comércio Álvaro Penteado (Fecap).
Além do Brasil, o congresso reuniu palestrantes da Espanha, Chile, Reino Unido e Estados Unidos, compartilhando experiências de aplicação de Mindfulness na vida e nas áreas da saúde, educação, alimentação, desportiva e bem-estar. O professor Stanziani destacou o que outros convidados também ressaltaram para fazer uma prática meditativa: a compaixão é essencial. “Precisamos descobrir a própria humanidade, se respeitar para respeitar o outro”.
Harmonia nas diferenças
O evento acolheu ciência e religião por meio do diálogo. “A ciência coloca os fatos, as tradições os valores”, falou Stanziani. Em outro painel, o Lama Rinchen Khyenrab, Lama residente do Mosteiro Sakya Brasil, destacou que Mindfulness é se colocar no mundo com uma visão ampla e, sobretudo, com afeto. Segundo ele, a verdadeira felicidade vem de ver o outro feliz, quando ajudamos, quando temos compaixão.
A vida pede pausa
Em sua apresentação, o Lama Rinchen Khyenrab destacou um texto do espanhol Jorge Larrosa Bondía, doutor em Filosofia da Educação:
“A experiência, a possibilidade de que algo no aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.”
Se algo precede algo, sou eu…
A Lama Tsering, nascida nos Estados Unidos e hoje Lama residente do Centro de Budismo Tibetano Chagdud Gonpa Odsal Ling, reconheceu que é difícil manter a disciplina, diligência e comprometimento consigo próprio, “mas se alguma coisa precede algo, sou eu mesmo”, enfatizando que não podemos nos render ao nobre desejo de salvar o mundo, se não cuidarmos, com amor, de nós mesmos.
Não se deixe congelar pelo que você pensa
Com uma metáfora do gelo, a Lama Tsering explicou porque temos tanta dificuldade com o que queremos. “O gelo vem da água, mas, com a influência do frio, se transforma e se solidifica. O gelo só poderá se descobrir que é água se remover de si o frio”, detalhou. Segundo ela, assim é o nosso ser, formado de perfeição que permeia tudo. “Mas esta verdadeira natureza a mente não reconhece, e você não reconhece porque está ocupado com o eu, e este ‘eu’ nunca fica satisfeito”.
Enquanto o eu faz uma nova lista de desejos a serem atendidos, a cada objetivo que alcança, de acordo com ela, o absoluto em nós é perfeito e não tem qualquer necessidade. A atenção plena – Mindfulness – permite deixar ir, relaxar o eu, limpar, e produzirmos o que somos naturalmente.
Mindfulness para conectar com o divino
Dom Alexandre de Andrade, monge beneditino e instrutor de Canto Gregoriano, do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, disse que devemos acolher a medidação, dada por outras culturas, para melhorar a nossa fé. “A meditação é simples, mas exige disciplina interior, afastar o pensamento de tudo que impeça de sentir Deus presente no coração”.
Transcende as religiões
“Independentemente do que façamos, será a ética apropriada. A ética é um pré-requisito para a prática da meditação”. Quem defende esta ideia são os professores Dr. Edo Shonin (PhD pela Nottingham Trent University, UK) e o Dr. William Van Gordon (PhD pela Nottingham Trent University, UK). Shonin destacou o cuidado necessário com a mente porque temos o poder de criar e de simular. “Viva a sua vida, não permitindo que a mente viva por você”, alertou.
Na avaliação do professor Van Gordon a meditação pode ser de todas as religiões, mas transcende todas elas. E o primeiro passo para meditar é desenvolver os princípios humanos e a compaixão. “Seja feliz, seja humano primeiro”, recomendou. Ele listou os princípios chaves da Atenção Plena: abster-se de ingerir ideias e pensamentos intoxicantes e visões equivocadas.
Para quem tem problema com a palavra espiritualidade, Van Gordon lembrou: “mas nós somos feitos de corpo, mente e espírito”.
Entre a Espanha e o Brasil
O IV International Meeting on Mindfulness é organizado pelos professores doutores Marcelo Demarzo e Javier Garcia-Campayo. Demarzo, presidente do congresso, é professor da Universidade Federal de São Paulo, coordenador do Centro Mente Aberta, co-autor de diversos livros e artigos científicos sobre Mindfulness. Garcia-Campayo, vice-presidente do congresso, é professor na Universidad de Zaragoza, Espanha, onde é diretor do Centro de Mindfulness. Também é autor e co-autor de diversos livros e artigos.
Como se alterna entre o Brasil e a Espanha, o congresso de 2018 será na Espanha, e, em 2019, volta a ser realizado no Brasil.