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Mais do que nunca, eu me amo e me aceito e esta é minha manifestação de amor
Meaghan Ramsey, do projeto Dove Self-Esteem, afirma que, hoje, cerca de 10 mil pessoas por mês pesquisam no Google o termo: “Eu sou feio?”, enquanto que uma das coisas que mais gostávamos de fazer quando crianças era justamente olhar nosso reflexo no espelho.
O batom e a cor que você quiser
Aos 29 anos, eu usei pela primeira vez um batom vermelho. Sempre achei a cor linda em outros rostos, mas quanto se tratava de mim surgia uma vozinha interior – que em algum momento foi plantada lá dentro – julgando que não era a cor ideal para quem tem os lábios grossos.
Cada vez que eu ia comprar maquiagem e alguém dizia: você ficaria linda de vermelho, eu logo justificava, até com certo humor, que a minha boca chamaria muito à atenção e que preferia rosa, marrom, dourado, nude. Eu preferia qualquer cor que não transmitisse aquilo que eu era.
O volume da autoestima
Aos 20, eu cortei meu cabelo bem curto. Sempre tive cabelo comprido, mas usava-o amarrado por conta do volume. Chegava nas lojas de cosméticos e a primeira pergunta sempre era:
– Você procura um produto para alisar ou para reduzir o volume?
Quando ousava usar o cabelo solto era sempre coberto de creme. Assim que ia secando e o volume aparecendo, eu pegava um amarrador na bolsa e prendia não só meu cabelo, prendia a minha autoestima.
:: Leia também: Se você não valoriza sua cor, sua história, suas raízes… tem algo errado
Uma negra bonita, todas as negras bonitas
Aos 17 anos, eu entrei para o curso de jornalismo. Em uma sala de 50 alunos, éramos duas negras na sala, ou seja, menos de 2%. Eu já trabalhava desde os 16 e ganhei uma bolsa de estudos que bancava mais da metade da mensalidade. A Eliane trabalhava à noite na farmácia – saía correndo da aula às 22h, já emendando com o turno do trabalho. Era assim que pagávamos a mensalidade e podíamos “agradecer à sociedade” pelo privilégio de botar o pezinho lá dentro.
Quando as pessoas perguntavam o que eu cursava na faculdade, inevitavelmente me comparavam à apresentadora Glória Maria. Ela era uma das poucas referências de mulher negra em evidência na televisão brasileira. Diziam que eu não precisa me preocupar com colocação no mercado de trabalho porque eu era uma negra bonita. Mas que baita sorte a minha, não é mesmo?
Quem quer ser modelo?
E por conta também de ser uma “negra bonita” fui desqualificada – mesmo sem sequer algum dia cogitar esse tipo de carreira – para ser modelo porque eu não tinha a altura e o corpo ideais.
Todas essas conclusões vieram nas minhas três décadas de vida com bastante frequência e involuntariamente. Resumindo: nunca pedi a opinião das pessoas sobre o que achavam do meu batom, do meu cabelo, do meu peso ou dos meus objetivos profissionais. E o fato de as pessoas darem opinião – muitas vezes baseadas em estereótipos e pré-conceitos – sem você ter perguntado, vai gerando um ruído sobre o que você pensa e como vê a si mesmo.
E o mais interessante é que surgiam de forma muito sutil: o comentário de um amigo, da costureira da família, um pitaco da mãe da colega, de alguém do trabalho ou até de um parente próximo. E a gente nem se dá conta de que está sendo domado. Eu não percebia, adultos não percebem, as crianças não desconfiam dos comentários disfarçados de doutrinação. A repressão é inimiga da autoestima, porque, instantaneamente leva à comparação, à negação e ao sofrimento.
O sofrimento que sentimos neste exato momento é sempre alguma forma de não-aceitação, uma forma de resistência inconsciente ao que é. (Eckhart Tolle, no livro O poder do Agora)
Com o tempo, vamos acumulando esses resíduos de sofrimento causados pela falta de compreensão do mundo e passamos a não perceber – e a negar – a perfeição do presente e a beleza que já não enxergamos mais no espelho, porque perdemos também a capacidade de olhar para ele.
Aceitação é uma manifestação de amor
Nada de batom. Nada de volume. Nada de passarelas. Nada de televisão. Foi o que disseram. Mas, pasmem, eu tive salvação! Porque o amor compensou todas essas falas contrárias. Aos poucos, eu fui chacoalhando os meus cabelos, assumindo a cor do batom e sendo firme ao dizer que respeito a Glória Maria, mas que eu tinha meu próprio caminho a ser trilhado.
O que você faz em meros cinco segundos? Talvez pense que muito pouco. (…) Cinco segundos são tempo suficiente para um pai, num momento de ansiedade, dizer ao filho: ‘Você me envergonha’; para um professor, num ataque de raiva, dizer a um aluno: ‘Você não vai ser nada na vida’; para um parceiro, sob tensão, dizer à sua parceira: ‘Não sei como te suporto’. São declarações rápidas, mas com grandes consequências emocionais. (Augusto Cury, no livro Gestão da Emoção)
Aos poucos, eu silenciei todas as vozes, todas as opiniões formuladas em apenas cinco segundos, e deixei que a minha subisse um tom. Não em termos de volume, mas de relevância. Quanto mais você exercita a autoestima, o amor e o respeito por quem você é, mais blinda a própria vida com algo extraordinário: a aceitação daquilo que é, sem restrições e reservas. E, aos poucos também, as pessoas se calam porque percebem que não há espaço para dúvida e intolerância nesse diálogo.
Como destacado no começo do texto, ao lembrar de que gostávamos de contemplar nossa imagem no espelho quando crianças, Meaghan Ramsey faz a seguinte pergunta:
– Quando eu parei de fazer isso? Quando é que, de repente, não é mais legal amar nossa aparência?
Em uma cultura obcecada pela imagem, estamos treinando nossos filhos a gastarem mais tempo e esforço mental em sua aparência, à custa de todos os outros aspectos de suas identidades. Assim, coisas como relacionamentos, o desenvolvimento das habilidades físicas, seus estudos e assim por diante, começam a sofrer. Seis em dez meninas estão agora optando por não fazer algo, porque elas não acham que são bonitas o suficiente. (Assista ao vídeo completo: Porque achar que você é feio é ruim para você)
O sentir-se bonita ou bonito vai bem além da maquiagem, do cabelo ou de um corpo que agrada – a você e aos outros – ao ser contemplado no espelho. Sentir-se belo é olhar para dentro e perceber que tudo que foi cultivado, seja dentro ou fora, faz sua vida ser mais feliz, faz você estar mais feliz. A falta de confiança fragiliza, enquanto o autoconhecimento fortalece o (auto) amor.
Como solução, Meaghan sugere vivenciar e mostrar para pessoas com baixa estima que a aparência é apenas uma parte da sua identidade. Que devemos ser amados por quem somos, o que fazemos, em vez de sermos rotulados e comparados, sem deixar que isso afete a convivência social, ou até mesmo, os nossos relacionamentos. Diminuir nossa presença é subestimar a importância de quem é inteiramente responsável pela forma como se sente: você mesmo.
Se há algo que você pode fazer, com ou sem o consentimento de alguém é se amar e se aceitar.
Ao estarmos totalmente conscientes de nós mesmos, o ato de amor interno e externo vai ficando natural. E fica mais fácil estar feliz porque ninguém vai te fazer feliz, ou transformar a sua vida. Ao se cuidar, se amar, se respeitar e fazer girar toda esta energia de amor e positividade à sua volta, você passa a atrair pessoas com a mesma vibração. (Elair Floriano, no texto Ame mais e ame você).
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