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Escolher é abrir mão de viver todas as outras opções
- 11 de janeiro de 2016
- Postado por: Carla Cabral e Silva
- Categoria: Felicidade Liberdade
Antes de viajar para a Europa me vi em um dilema: como levar um guarda-roupas inteiro em uma mala de viagem média que iria me acompanhar por quase um ano? Ao acolher essa tarefa, lembro-me de sentar à beira da cama, olhar para as dezenas de cabides pendurados e relembrar de cada vez que fiquei descontente por não ter a roupa certa.
E assim eu viajei, com uma mala tão cheia, que pesou nas costas, nos braços e na consciência por eu ter sido ingrata algumas vezes, mesmo com tantas opções. Eu lembrei do vídeo O paradoxo da escolha, de Barry Schwartz. Ele diz que, por teoria, se quisermos maximizar o bem-estar dos cidadãos, o caminho é maximizar as liberdades individuais, pois a liberdade é boa, compensadora, valiosa e essencial.
“Isso significa que todo dia ao acordar de manhã, você tem que decidir que tipo de pessoa quer ser. Em qualquer lugar que olhamos, coisas grandes e pequenas, materiais e comportamentais, a vida é uma questão de escolha”, afirma.
Mas ele levanta um ponto importante: quando você faz uma escolha, está optando não fazer outras coisas. E essas outras coisas, em um segundo momento, podem ser muito mais atraentes do que aquilo que está fazendo agora. Entendeu? Eu também fiquei confusa, afinal, tudo que queremos é liberdade. Mas, ao longo dos meses seguintes eu fui entendendo…
O economista Dan Gilbert, em A ciência surpreendente da felicidade, exemplifica isso em um experimento feito em Harvard. No curso de fotografia, estudantes entraram em uma sala escura de revelação, pegaram câmeras fotográficas e percorreram o campus para tirar 12 fotos, desde professores preferidos até alojamentos. Coisas que no futuro recordariam a universidade. Das 12, tiverem que escolher as duas melhores e a eles foi dito:
Qual destes dois retratos você vai nos dar? Escolha um deles e nos dê o outro.
Haviam dois grupos no experimento. Ao primeiro, foi dada a oportunidade de mudar de ideia, sobre o retrato doado, nos próximos dias. “Não se preocupe se mudar de opinião, a escolha é reversível”. Ao segundo grupo foi dito o contrário: “Faça sua escolha. Aliás, o correio está saindo, céus, em dois minutos para a Inglaterra. Você nunca verá o retrato de novo.”
Nos próximos dias, eles acompanharam a satisfação a respeito das fotos. Os alunos achavam que iriam gostar da foto que escolheram um pouco mais que da outra que doaram. Errado! As pessoas que estão presas à foto, que não podem mudar de ideia, realmente adoraram sua escolha. Já as pessoas que têm essa oportunidade, se afundam no dilema: devo trocar? Escolhi a melhor? Talvez esta não seja a melhor? Será que deixei a melhor lá? Elas passam a odiar a escolha que têm. Por quê? Segundo Gilbert, porque a condição reversível não é compatível com a síntese da felicidade.
Eu explico: quando você não tem opções, passa a conviver melhor com o que tem porque não existe a chance de ter algo diferente. Em resumo, você fica mais satisfeito, mais feliz. Em Portugal, eu tinha apenas dois ou três jeans, algumas camisetas de verão e eu sabia que era somente aquilo que eu poderia ter (e carregar) naquele momento. Não lamentava, não passava longos minutos em frente ao guarda-roupas, apenas vestia. Os primeiros dias foram dolorosos, mas ao longo das semanas, a praticidade falou mais alto. A condição irreversível falou mais alto. A forma sintetizada de felicidade 🙂
Eu havia optado por estar ali para viver algo maior que as dúvidas corriqueiras que refletem no espelho. Como diz Schwartz, quando você faz uma escolha, está escolhendo não fazer outras coisas. Naquele momento, eu parei de ser infeliz pela falta das minhas roupas preferidas. Eu tinha decidido viajar e abrir mão de alguns luxos que uma vida cômoda e estável proporciona.
Sem dúvida Carla as escolhas são difíceis, e quando isso envolve abrir mão de coisas e pessoas do dia dia passando a ter tudo novo , imprevisível, surpreendente . Queremos tanto tudo novo , mas temos medo de arriscar eu digo vale a pena a experiência. E digo mais faria de tudo de novo em busca do novo. Tirando a saudade das filhas e neta , vale a pena ter apenas 3 dins e poucas peças de roupas p escolher.
Oi, Ritha. Sem dúvida as abdicações valem à pena quando queremos encontrar nosso caminho. Encontrar o que nos deixa felizes com certeza vai fazer com que as pessoas que nos amam também se sintam assim <3