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4 lições sobre relações que aprendi com crianças no trem
- 27 de janeiro de 2016
- Postado por: Carla Cabral e Silva
- Categoria: Relacionamento Viagens
Sexta-feira, fim de tarde. Estávamos viajando de Bucareste para Rasnov, duas cidades lindas na Romênia. A primeira, a capital. A outra, graciosa, o mais perto que conseguimos ficar do Castelo de Bran, conhecido como a casa de Conde Drácula. Sabe-se que é uma lenda, mas é um dos destinos romenos mais procurados e estávamos animados para conhecer.
A viagem de trem levou quase cinco horas. Cansativa, mas a monotonia logo foi chacoalhada por duas crianças que embarcaram com a mãe no trem. Sentaram-se nos assentos do outro lado do corredor. A bagunça típica de crianças entediadas logo preencheu todo o vagão. Foi um festival de provocações, brigas entre a garota e menino, puxões de orelha da mãe e… lições.
Sim, ninguém melhor que as crianças para nos ensinarem coisas bem básicas sobre relacionamentos.
1 – No fundo, a gente deseja atenção
Quando criança faz bagunça, o que mais aprecia é o fato de ter audiência. A plateia é a melhor parte do espetáculo. Mesmo com a algazarra, eu procurava não olhar para elas. Às vezes, espiava o reflexo dos dois pelo vidro do trem. E ria disfarçadamente, mas, os danados conseguiam me ver. E a bagunça recomeçava. Porque, no fundo, é isso que a gente espera das pessoas: um pouco de atenção.
2 – Relacionamentos são laços
Quando eu era pequena e minha mãe brigava comigo, eu sempre achava que nunca mais iria falar com ela. Era uma braveza só, que não durava mais que dez minutos. Os irmãos brigaram enlouquecidamente durante a viagem. Empurrões, provocações, ciúmes. Mas, na hora do desembarque estavam lá, juntos, um ajeitando a toca do outro e dando risada.
Não importa o quanto nossas opiniões sejam diferentes das de nossos amigos, irmãos, pais. Laços de amor são fortes e não desatam facilmente.
3 – Apego nem sempre faz sentido
Os pequenos passaram a viagem naquela bagunça, mas foi só nos últimos 30 minutos de viagem que tiveram coragem de sentar ao nosso lado. Silêncio total. De repente, o barulho acabou e tudo que faziam era olhar para nós. Ligeiramente desafiadores – como quem diz, estou aqui – e, ligeiramente felizes. Justamente por estarem ali. Criança não precisa de motivos para se aproximar, para se apegar, nem para se deixar ficar junto.
4 – Sentimento tem linguagem própria
Eu já falei aqui sobre as pessoas que conheci em Montenegro e que não falavam inglês. E como isso não fez falta. No trem, eu tive mais um exemplo de que é possível se comunicar de outras maneiras. A garotinha, tão logo sentou ao meu lado, disse muitas coisas.
Eu perguntei: do you speak english? Ela só balançava a cabeça levemente, olhinhos fixos nos meus. Não estava respondendo que não. Queria só mostrar que nem ao menos entendeu a minha pergunta. Mas, suas mãos quentinhas alisavam as minhas, geladas, e seus olhos brilhavam de compreensão. Nós duas nos falamos por algum tempo.